A Aldeia das Corgas
Segundo o censos de 2001, a aldeia de Corgas tinha 60 moradores fixos, num total de 139 pessoas. Como a igreja (capela) é o único “monumento” das Corgas e a história dela é também a história da aldeia, neste capítulo poderias acrescentar um texto mais desenvolvido sobre a igreja ou capela das Corgas: Num dia da graça do Senhor do ano 1959, o Senhor Vigário, Pe. Alfredo Dias e a comissão constituída, rodeados por um povo entusiasta, colocaram sobre rocha dura uma pedra medulada por uma garrafa recheada de moedas e notas da época, que viria a ser o início do edifício mais emblemático e aglutinador do povo das Corgas. Trata-se da capela erigida em honra de Nossa Senhora do Carmo, no “céu das Corgas”. De relance, ao olhar para este “céu”, o pensamento voa até o Monte Carmelo, elevação a 600 metros de altitude entre a Samaria e a Galileia (Terra Santa), onde Elias (874-852 ac.) realizou estupendos prodígios e onde terá visto Nossa Senhora simbolizada numa nuvem. Olhando para esta pequena alusão bíblica, apesar de superficial, diria que a escolha do lugar não poderia ser mais acertada. Nossa Senhora do Carmo sempre apontou aos seus filhos o “caminho do céu” e, nos momentos críticos, aí está bem presente, como mãe e protectora. Conta-se que, aquando da invasão francesa, o povo das Corgas refugiou-se sob a sua protecção e Ela, através dum denso nevoeiro, subtraiu-o aos olhos do inimigo, salvando-o assim das possíveis devastações típicas nas invasões das tropas de Napoleão. Construir no “céu e direccionado para o céu” não é tarefa fácil! Consta-se que, depois de colocar aquela primeira pedra, a máquina monetária falhou por circunstâncias diversas. No entanto, o povo sabia que “a capela pronta e o adro arranjado muito honraria a nossa aldeia…
Apesar de dez anos de espera, a consciência deste empreendimento estava viva… A capela marca um futuro novo para as Corgas” (no jornal “O Concelho de Proença- a-Nova”). O homem sonha, une os esforços e as vontades, e Deus ajuda. Realmente, foi o que aconteceu, todos colaboraram com jornas, dinheiro… No dia 19 de Julho de 1970, primeiro domingo a seguir ao dia 16, dia consagrado a Nossa Senhora do Carmo, todos os caminhos iam dar às Corgas. “Os sonolentos circunvizinhos e os da terra foram acordados com foguetes. As ruas foram engalanadas, os melhores bichos da capoeira e de monte foram mortos”. Era a inauguração da capela em honra a Nossa Senhora do Carmo. Sim, às 13 horas, a imagem da Padroeira depois de ter percorrido as ruas da Aldeia sob a presidência do pároco, Padre Alfredo Dias e com a presença do Presidente da Câmara, Dr. Eugénio de Matos, saía em solene procissão da capela velha para a nova. Chegados ao “céu das Corgas” e dentro da “nova capela a apontar para o Céu” os membros da comissão constituída por José M. Farinha, Manuel Dias Novo, José Martins da Silva, Francisco Manuel e Francisco Ladeira Novo entronizaram no lugar apropriado a sua rainha e mãe: Nossa Senhora do Carmo.
A grande característica de Nossa Senhora do Carmo é trazer consigo o escapulário (dois
pedacinhos de lã castanha unidos por cordões). “O sagrado escapulário” como veste
mariana, é penhor e sinal de protecção de Deus. É uma lembrança para viver
cristãmente e assim alcançar a graça de uma boa morte. Para obter as graças do
escapulário do Carmo é importante que seja benzido e imposto por um sacerdote e que
seja trazido piedosamente durante a vida. Na base da devoção ao escapulário do Carmo,
está a imitação das virtudes de Nossa Senhora. Quem por fora cobrir com a sua veste,
deve, por dentro, revestir-se das suas virtudes. A imagem centenária de Nossa Senhora
do Carmo das Corgas (fins do século XVII), com toda aquela envolvência da capela: via
sacra, cenário que recorda o baptismo do Senhor, tudo pintado em azulejos, as ogivas a
apontar para o céu… convida misteriosamente a fazer seu, o “sagrado escapulário”. Em
2009, foi necessário intervir e restaurar a capela. O custo foi de setenta e quatro mil,
oitocentos e trinta euros e oitenta e dois cêntimos. Mais uma vez, foi recordado o
princípio: “o homem sonha, une os esforços e as vontades, e Deus ajuda”. Isto foi
possível, não só com as ajudas das actuais 108 almas residentes mas também com o
resultado de muitas festas de Verão que as diversas comissões organizaram ao longo
dos anos, com o contributo dos amigos da terra e os apoios da Câmara Municipal e da
Junta da Freguesia de Proença-a-Nova.
Nestes meses de Verão “o olhar pelo
património” serpenteou os 9 km de estrada a Norte da Vila de Proença-a-Nova para
levar ao nosso querido leitor, ao tal “céu das Corgas”. É oportuno, neste mês em que a
Igreja Católica celebra a festa de Nossa Senhora do Carmo, fazer também o caminho.
Chegar e respirar o ar puro no adro da capela transformado num espaço de lazer e
contemplação graças ao esforço de requalificação dessas áreas, levado a cabo pela
Câmara Municipal de Proença-a-Nova, oxalá, possa em seguida, dentro da capela,
experimentar a emoção da presença divina que teve o Profeta Elias no monte Carmelo!
Texto do Padre Ilídio Graça